Minha segunda filha nasceu e eu tinha muitas expectativas em torno da amamentação, embora a experiência com a mais velha tenha sido positiva (mamou exclusivamente por 6 meses e depois até 1 ano e 4 meses)!
Já nos primeiros dias, algo parecia estar errado: Isabela golfava até o colostro e engasgava muito nas mamadas. O leite veio com muita força, tive hiperlactação e reflexo de ejeção forte.
Aos poucos fui aprendendo a lidar com o reflexo de ejeção e a produção foi se normalizando.
Mas a cada dia, Isabela vomitava mais e mais, a irritação após as mamadas aumentavam e outros sintomas foram surgindo: diarréia e muco nas fezes, dermatite atrás das orelhas e nas dobras, vômitos em jato, mesmo adotando todas as medidas posturais.
Com 20 dias caiu a ficha de que o leite de vaca poderia estar por trás de tudo. Eu era a própria bezerra, consumia bastante leite e derivados diariamente e num primeiro momento, cortar leite parecia ser impossível. Mas a gente logo percebe que o mundo não é feito de leite e que existem sim, muitas opções.
No início tive um pouco de dificuldades com rótulos, cheguei a comer biscoito de água e sal, achando que era inocente, ou mesmo dar uma lambidinha na tampa do iogurte. Mas os vômitos da Isabela denunciavam a escorregada.
O aviso principal veio com toda força aos 23 dias quando apareceu sangue vivo nas fezes. Nada mais desesperador. Marquei a gastropediatra.
Com 25 dias fomos na consulta, ela, após ouvir a história, praticamente fechou o diagnóstico, querendo apenas afastar a possibilidade de infecção. Pediu vários exames de fezes (coprocultura, alfa 1 antripsina fecal, elementos anormais nas fezes - hemácias, leucócitos e substâncias redutoras - e sangue oculto - anti HB-humano) e indicou a dieta (acrescentando soja, carne bovina e ovo) e as medidas posturais para o refluxo.
Fizemos os exames (alterados), mas sem infecção, o que fechava de vez o diagnóstico junto com a dieta. Além disso, comi mais alguma coisa com leite (um biscoito) e foram mais 5 dias de sangue nas fezes em cada evacuação.
Continuei amamentando em livre demanda e exclusivamente, a Isabela não vomitava mais, no entanto continuava com diarréia e muco nas fezes, e dermatites. E continuava muito irritada após as mamadas. Foi então receitado remédio para o refluxo (que tomou por 3 meses), além de uma maior restrição na dieta, que depois aos poucos fui voltando a comer.
Apesar desse começo complicado, ela ganhou 2 quilos nos 2 primeiros meses.
Aos 5 meses, uma bobeada no rótulo, comi alimento com leite e mais uma vez, cólicas, sangue e muco nas fezes.
Repetimos os exames, e estavam piores que os primeiros, para meu desespero. A Dra. Sheila me tranquilizou, dizendo ser esperado, e que eu mantivesse a dieta e me orientou para a introdução dos sólidos com 6 meses.
A introdução dos sólidos foi super problemática: primeiro porque minha filha detestava comida! Segundo, porque ainda estava sensibilizada e tudo era uma caixinha de surpresas. E depois, sempre tinha algo para atrapalhar: uma vacina, algo que eu podia ter comido, alterações na rotina.
Nessa época, foi prescrito o ferro e Isabela não tolerou, mesmo eu dando 1 gota por dia e aumentando a dose aos poucos. Voltou o refluxo e precisou de mais 2 meses de medicação.
Teve pneumonia aos 7 meses e meio, tomou a vacina prevenar aos 9 e teve forte reação alérgica.
O coco continuava com aspecto péssimo, os exames ruins, e a Dra Sheila pedindo para eu manter a dieta e seguir vagarosamente na introdução dos sólidos. Toda vez que algo desse errado, voltar e continuar. Era importante sempre andar para a frente, mas dar uns passinhos para trás de vez em quando.
Com 10 meses, finalmente, passou a ter um coco com aspecto normal e os exames finalmente normalizaram (com exceção do alfa 1 que piorou muito, mas a Dra Sheila também me tranquilizou, pois era um resultado isolado e segundo ela sem valor). Teve uma recaída na diarréia que durou quase 1 mês, a causa não descobri, mas desconfio de migalhas pelo chão ou mesmo uma virose.
Nesse período, tive momentos enlouquecedores, chorei muito, dividi minhas dúvidas e tristezas e também alegrias com minhas amigas virtuais, já que os reais me acham louca e alguns heroína.
A dieta teria sido muito mais difícil não fosse a facilidade de hoje encontrar alguns produtos isentos de leite e soja que facilitaram muito minha vida, como bebidas à base de arroz, chocolates e achocolatados sem leite e soja, entre outras coisas.
Com 1 ano comi acidentalmente um pedaço de queijo e voltamos a ter sangue oculto positivo, o que adiou qualquer tentativa de reintrodução para 2 anos, pelo menos.
Por outro lado, tivemos sucesso na reintrodução de carne e ovo na alimentação, além dos cítricos e a dieta ficou restrita a leite e derivados e soja.
Ela hoje está com 21 meses, se recuperando da anemia em razão do sangramento intestinal, se alimentando bem, esperta, brincalhona e participativa. Continua mamando e não tem data para parar!
E hoje, olhando para trás, vejo que as coisas já foram piores, indefinidas. Mais do que nunca, vejo que é preciso muita paciência, cautela, cuidado e observação. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas com certeza, as coisas vão ficar melhores a cada dia!
História enviada por
Fernanda, mãe de Clara e Isabela
para ler o relato da Clara, passem
lá.
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Conheci o blog da Fernanda, buscando na net textos do livro "Mi niño no me come" do Carlos Gonzalez. Foi admiração a primeira leitura, achei importante ter um relato dela aqui na nossa campanha e escrevi um e-mail pedindo que ela me enviasse sua história.Vale a pena conferir AQUI a bonita campanha que ela está fazendo, reunindo lindas e emocionantes histórias de mães que amamentam bebês com alergia.
Obrigada Fernanda e Parabéns a todas as mamães que amamentam seus filhos com alergia alimentar.