terça-feira, 4 de agosto de 2009

May e Melissa

Quando eu soube que estava grávida, tudo na minha vida mudou. Parece clichê, mas eu fumava 2 maços de cigarro por dia e no dia em que fiz o teste tinha comprado 2 pacotes com 10 cigarros. Mas no momento que eu soube que tava grávida, eu parei de fumar. Eu morava no Japão e lá nós temos o hábito de tomar chá, então um dia eu comecei a ler os rótulos dos chás que eu comprava (brasileiros) e descobri que "capim-cidereira" estimulava a produção de leite. Eu fazia 2 litros de chá por dia, porque eu morria de medo de não ter leite pra amamentar meu filho. Eu sempre soube de histórias de mães que não conseguiam amamentar, ou que o leite secava e não eram capazes de amamentar nem o tempo mínimo que são os 6 meses. Meu sutiã aumentou 4 números!!!! E fui tomando assim, 2 litros por dia, sagrados, até chegar ao Brasil, no 4º mês de gestação. O pai da minha filha me abandonou 2 dias depois que eu fiz o teste e sumiu.
Tive que vir embora às pressas, pois já havia tido 2 começos de abortos espontâneos e o médico me proibiu de trabalhar. Eu ficava em estado febrio e vomitava todos os dias, mas nenhum médico de lá comentou nada sobre isso. Então quando eu cheguei, fui ao meu médico e descobrimos que eu tinha um vírus chamado CMV: Citomegalovírus. Fui encaminhada à um infectologista, que calmamente me explicou que esse vírus poderia ultrapassar a placenta e infectar o bebê, o que fatalmente ocasionaria um aborto espontâneo até no máximo o 5º mês. Saí de lá arrasada, chorando, pensando mil coisas, me lamentando. Tive outro começo de aborto espontâneo, mas meu médico me tranquilizou bastante: repouso absoluto e dactil até o final da gravidez. Fiquei praticamente a gravidez toda de repouso, vomitando e em estado febril. Eu não conseguia comer, não podia andar... a única coisa que me mantinha viva era esse coração batendo aqui dentro de mim, e não era o meu. Emagreci 7kg antes do 7º mês. Não tinha nem barriga direito, mas de repente, PUF! Aquele barrigão imeeeenso! Eu achava lindo! Por causa do vírus eu fazia aquele ultrassom morfológico todos os meses, 2 vezes por mês, pra acompanhar o desenvolvimento do bebê, pois o infectologista disse que o vírus poderia causar algum problema físico e/ou mental. Até o 8º mês, tudo estava nos conformes. Acompanhamos todos os membros, todos os órgãos, toda estrutura óssea, centímetro por centímetro.
Era menina, e ía se chamar Maria Luísa. Eu não conseguia mais andar depois do 7º mês. Já estava com 34 semanas e nada do bebê encaixar, virar, ou qualquer coisa assim. Meu médico achou melhor pedir um ultrassom, pra ver o que tava acontecendo. Fiz o ultrassom pela manhã, entreguei no consultório à tarde e quando foi 23h da noite, meu médico me ligou dizendo que era pra eu me preparar porque ía ganhar neném no outro dia. No primeiro momento eu não quis, mas ele explicou que o cordãozinho estava sobre o ombro e por causa disso o bebê não conseguia encaixar. Além disso, o vírus exigiu muito da minha placenta, que estava com grau IV de maturidade e quase não havia mais líquido amniótico. Eu vomitei à noite inteira, não dormi, de medo. Eu estava esperando pelo parto normal, sempre tive PAVOR de cirurgia e a cesárea é uma cirurgia. No outro dia de manhã fui pro hospital, dei um baile nos médicos, já no centro cirúrgico dizendo que não iria fazer a cesárea porque esperaria o parto normal e Deus me abençoaria (pensa na louca!), mas o pediatra e um psiquiatra me convenceram a tomar a anestesia e dar continuidade ao parto (fiquei até com vergonha depois, porque a anestesia não doeu nada!).
Tudo correu bem, foram minutos, e eu ouvi ela chorando bem baixinho. Por causa do chorinho tímido, deixaram ela na encubadora durante 1h. Eu estava muito ansiosa pra recebê-la em meus braços! Quando ela chegou, eu peguei ela e fiquei olhando... e naquele momento não existia mais nada ao nosso redor. Éramos só nós duas. A esposa do meu médico, também enfermeira, me ajudou a dar o peito pela primeira vez. Eu não tinha bico, então foi muito difícil e doloroso. Eu chorava de alegria e dor ao mesmo tempo. É engraçado isso! E eu contava cada dedinho e olhava cada pedacinho dela... Então eu achei que ela não tinha cara de Maria Luísa, mas sim, "Melissa". Logo depois eu recebi a notícia de que a Melissa tinha paralisia na corda vocal esquerda e laringotraqueomallácia, um problema sério na traquéia que piora com frio e poderia impedir que ela conseguisse respirar. Era julho!
Quando chegamos em casa foi totalmente desesperador. Na nossa primeira noite Melissa chorava como se não houvesse amanhã e eu chorava por não conseguir amamentar de maneira nenhuma. Tentei de tudo pra saciar a fome: peito, mamadeira, peito, NAN, peito, enfim... nada dava certo até que às 7h da manhã a esposa do meu médico veio me visitar. Foi Deus que enviou ela! Eu aos prantos, Melissa azul de fome, e finalmente com a ajuda dela, conseguimos nos entender. Acho que esse desespero é natural às mães de 1ª viagem e conversar com ela foi renovador. A partir daí, os dias que se seguiram continuaram difíceis, mas aos poucos a gente ía aprendendo uma com a outra. Nenhuma mãe nasce sabendo dar o peito e nenhum bebê nasce sabendo sugar um peito, rs. O bico foi se formando aos poucos, a amamentação foi ficando gostosa e plena, e eu tinha tanto leite, mas tanto leite, que eu estocava leite no congelador, doava pro banco de leite e ainda ordenhava no banheiro porque não aguentava de dor de tão cheio que meu peito ficava! Era leite demais!!! (Daí lembrei do chá de 'capim-cidreira' e pensei que nunca mais ía tomar tanto chá na vida! rsrs)
Passamos um mês inteiro dentro do quarto, com aquecedor às vezes, com portas lacradas, banho quentinho, e peito. MUITO PEITO. Tudo conforme recommendação médica. E 1 mês depois que ela nasceu voltamos ao pediatra e ao otorrinolaringologista, refizemos todos os exames, e ela não tinha mais N-A-D-A. Absolutamente nada. Ela estava perfeita. O médico disse que o leite materno foi FUNDAMENTAL na cura dos dois problemas, principalmente o da traquéia, que é uma cartilagem e precisava de muito cálcio pra 'curar'. Isso me deu bastante força pra continuar amamentando até os próximos meses. No 6º mês eu já não precisava mais usar o protetor que ajudava a formar o bico. Foi aí que a amentação voltou a ser um terror! Melissa já tinha 1 ou 2 dentes, e sem o protetor o bico rachava muito, doía muito, sangrava muito e eu chorava muito. A maravilhosa sensação de amamentar se tornou um pesadelo e eu não aguentava de dor. Até que 1 ou 2 meses depois, a pele foi ficando menos sensível e o bico foi ficando cada vez melhor e mais resistente, e amamentar se tornou novamente um momento muito confortável e gratificante.
Nesse meio tempo, voltei ao infectologista, mostrei que a Mel tinha nascido perfeita e ele me disse: Ela não tendo sido contaminada, não teve nenhum problema físico, mas ela ainda pode ter problemas mentais, como retardo mental, por exemplo. Pô, esse médico é muito pessimista! Saí arrasada de novo, chorando litros, pensando que era um pecado um ser tão pequenininho passar por tudo isso! E ainda o que estaria por vir! Era muito amor, muito amor. Fiz acompanhamento com o neurologista mensalmente, até ela completar 1 ano, pra acompanhar o desenvolvimento dela, que graças a Deus, é normal.
Hoje Melissa tem 2 anos eu ainda amamento.
Não foi fácil no começo, não foi fácil durante o 6º mês, principalmente por causa do sangue. Causa uma impressão horrível! Mas todos os problemas que ela tinha, eu sentia que meu leite podia curar. Eu acreditei nisso, e acredito ainda. Nesses 2 anos, ela ficou gripada apenas 1 vez! Há 6 meses ela entrou no colégio e isso diminuiu um pouco a imunidade dela, mas nunca teve nada grave, a não ser uma sinusite há 1 ou 2 meses atrás.
Todos os sites, campanhas, e etc, falam que é maravilhoso amamentar, que é um gesto de amor, mas ninguém lembra da dor!!! rsrsrs. E muitas mães não têm acompanhamento e orientação como eu tive da esposa do meu médico, que não só era profissional, como também foi muito minha psicóloga durante esse processo. Acho que minha persistência contou muito sim, acho que a minha vontade de querer ser mãe integral também ajudou muito, mas a presença dela durante o 1º mês foi fundamental.
Agora que Melissa completou 2 anos, eu entrei no processo de desmame. Não tá sendo fácil também não, o peito agora é também um vínculo muito forte, quase uma dependência. E não é fácil acabar com os vícios! Mas hoje eu tenho minha consciência e meu coração tranquilos, porque eu fiz a minha parte. SIM!

Tudo é possível quando a gente acredita, quando a gente quer e quando a gente busca!



História enviada por May Ishii.

3 comentários:

val maria; disse...

eu acompanho essa história desde antes do início... e foi realmente uma luta cada degrau dessa escadaria. mas posso dizer que a mel é uma menina linda, super saudável e esperta e may é completamente responsável por isso.

Roberta disse...

Caramba, que história. Forte e bonita. Parabéns pela força e pela coragem.
Beijos,
Roberta

Rafael disse...

faço das palavras de val maria as minhas a mel é uma menina linda, fofa e cheio de carinho e como não ter carinho se ela só recebeu carinho desde antes de nascer e a may é uma mãe integral como ela mesmo disse que queria ser e hoje é sem sobras de duvidas e não não pareçe que vai mudar isso vai ser uma mãe integral sempre.