sábado, 1 de agosto de 2009

Tathy e Alice

Relato de uma quase amamentação

Quando descobri que estava grávida meu mundo floresceu. Fiquei em estado de graça, me sentindo super feliz, leve (rssss), poderosa e realizada. Foram 9 meses curtindo a barriga. Planejando, pensando e principalmente vivendo um dia de cada vez. Tirando os enjôos que duraram 5 meses, não me preocupei com mais nada. Fiz o curso de gestante (inclusive dei uma palestra nesse curso sobre depressão pósparto). Montei enxoval, quarto do bebê, decidi sobre como queria que fosse o parto mas em nenhum momento pensei na amamentação. Na minha cabeça as coisas estavam bem claras, a minha filha iria nascer e mamar nos meus seios.
Haveria algum problema nisso? Afinal, não era assim nas novelas, nas campanhas de amamentação? A mãe com um sorriso doce nos lábios segurando uma criança “parrudinha” em seus braços. E pra mim eu seria essa mãe. Então pra que me preparar para amamentar?
Segui em frente dentro da minha linda bolha cor de rosa. Até que chegou o grande dia. Alice nasceu e enquanto estávamos na sala de recuperação a coloquei no meu seio para a primeira mamada. Senti uma sugada forte, diferente do que tinha imaginado, mas seguimos em frente e ela mamou.
Confesso que achei estranho. E naquele momento pós nascimento o que não era?
Já em casa os meus seios triplicaram de tamanho. Estavam cheios de leite. Oba!!! Pedi meu marido que comprasse sutiãs maiores, n° 52, já que os meus estavam apertados. Alice mamava de 4 em 4 horas e comecei a perceber que o bico do meu seio direito estava machucado. Não dei importância. Só que a situação foi piorando. O meu esquerdo foi submetido a uma cirurgia plástica quando eu tinha 17 anos (eles eram desproporcionais um do outro) e ainda por cima o bico é chato, quase não tem. Lembrei que alguém me falou de uma concha de silicone que forma o bico. Pedi meu marido pra ir comprar. Comei a usar a tal concha e realmente os bicos ficavam mais projetados pra fora, o que na minha cabeça resolveria o meu problema.
Passaram-se não sei quantos dias e acordei com calafrios. Estava com febre. Lembrei de uma conhecida que falou que teve a febre o leite, que era quando o leite descia pra valer. Fiquei feliz. Liguei pra médica na manhã seguinte e falei que estava com a febre do leite e o que poderia tomar de antitérmico. Ela falou que se continuasse com febre era pra eu ir até o SOS verificar. A situação foi se agravando. Além da febre tinha muitas dores na hora de amamentar. Os seis estavam rachados, Alice já mamava sangue e eu chorava muito. No momento da pega, sentia uma dor do dedão do pé até o bico do seio. Era insuportável. Liguei pra médica que me mandou direto para o hospital. Fui atendida pela plantonista que me mandou para o banco de leite. Cheguei lá, a enfermeira queria fazer uma ordenha com bombinha elétrica. Pulei pra trás. Mostrei meus bicos pra ela e falei que não agüentaria. Ela fez uma ordenha manual e disse que o seio operado estava até bom e que era pra eu insistir. Mandou que eu utilizasse o secador e ficasse sem blusa e sutiã em casa pra cicatrizar.
Voltei pra casa e a cada mamada era seguida de choro e dor, muita dor. Fomos ao posto de saúde perto de casa procurar ajuda. Estava com o exame de sangue que comprovava a mastite. Levei pra mostrar a enfermeira que me atenderia. Expliquei a minha situação pra uma médica que mandou chamar a enfermeira. Falei pra ela que estava com mastite e que não estava conseguindo dar de mamá a minha filha. Ela me olhou nos olhos como uma águia enfurecida e perguntou de onde eu tinha tirado que estava com mastite. Revoltei. Retruquei com a mesma grosseria que eu sabia ler o exame, que era profissional da área de saúde e quase esfreguei o papel na cara dela. Ela olhou e mandou eu fazer compressa de água quente.
Outra enfermeira que não trabalha no banco de leite me chamou pra conversar. Ela viu o quanto eu estava abalada, ela entendeu o que eu estava sentindo. Ela não me julgou e falou pra mim que somente eu sabia o que era melhor pra minha filha, pra mim e pra nossa relação naquele momento. Me contou alguns casos, falou que eu tinha que ver o nosso bem estar que ninguém poderia interferir na decisão que eu tomasse. Saí de lá aliviada e disposta a interromper a amamentação. Era isso ou eu iria surtar. Estava a beira de ter uma depressão pósparto.
Procuramos uma médica pediatra pra me orientar em ralação ao leite que Alice passaria a tomar e ela foi contra. Usou dois argumentos ridículos: o primeiro que de ela estava ganhando peso, mesmo eu dando de mamá em um só seio e o outro é de que ela tinha tido mastite e tinha superado. Quase mandei ela ir á m. Mas fiz ela me ensinar a dar o leite pra minha filha. Depois de dois dias a secretária dela me ligou desmarcando a consulta que ela tinha agendado para 15 dias. Liguei pra gineco e pedi que ela me passasse um remédio pra secar o leite. Ela se recusou. Disse que eu TINHA que amamentar pelo menos até Alice completar 4 meses. Aí me lembrei que durante todo o prénatal ela não tinha se quer olhado os meus seios. Mesmo sabendo eu tinha feito a cirurgia e que foi pela auréola. Lembrei também que durante as consultas ela ficava perguntando aonde eu comprava as minhas bolsas e sapatos, fora as histórias do namorado. Revoltei. Rodei 80 km e fui para o gineco da minha mãe. Alguém nesse mundo tinha que me ver, que olhar nos meus olhos e me falar que eu não estava errada. Ele pediu uma ecografia mamária que acusou 9 nódulos fibroso nos seio esquerdo e 3 no direito. Lembro que a médica que fez a eco foi a mesma que as da gravidez. Ela me falou que essa dificuldade era mais comum do que eu imaginava e que tinha outras formas de alimentar a minha filha.
Voltei mais aliviada pra casa. Pedi meu marido que comprasse um lata de leite na farmácia. Ele me olhou e perguntou se eu tinha certeza. Soltei os cachorros em cima dele. Será que ninguém no mundo, nem ele, poderia me apoiar 100%? Ele foi e quando ele voltou fiz a mamadeira e Alice mamou muito. Aos poucos fui voltando a ter lucidez. Fui me sentindo feliz de novo e comecei a me sentir mãe.
Voltei pro meu antigo ginecologista e quando contei tudo o que tinha acontecido ele me explicou que a glândula que manda a informação para fabricar o leite, a hipófise, não sabe diferenciar pra qual seio mandar mais ou menos leite. Ela envia o sinal igual. Independente de amamentar em só um seio ou nos dois. Me perguntei porque deixei de ir lá. Me perguntei porque as pessoas são tão radicais, intolerantes e donas da verdade. Me senti enganada.
Mas o que eu posso tirar de bom de tudo isso? Primeiro que me fortaleci como pessoa, como mãe e como mulher. Apesar de não saber se conseguirei amamentar um próximo filho, tenho certeza que vou fazer tudo diferente. Vou me preparar pra amamentar sim, mesmo o meu médico dizendo que será muito difícil. E também vou me preparar para não amamentar, caso aconteça. É muito fácil julgar as atitudes quando não passamos por ela. Hoje em dia esse tipo de julgamento não me abala. Difícil é passar pelo que passei e estar aqui inteira, com uma filha super inteligente, saudável e amorosa.
Minha intenção em divulgar a minha história, é de que mulheres que estão passando pelo que passei não se sintam fragilizadas por isso e também em alertar á aquelas que estão gestantes que a bolha cor de rosa fura e que na vida real é tudo mais intenso, verdadeiro e porque não doloroso.

História enviada pela Tathy, a mamãe da Alice

3 comentários:

Renata disse...

Adorei! Acho importante divugar também que nem sempre as coisas são como gostariamos que fosse e que nem por isso as pessoas têm o direito de julgar!
Um beijo grande, Re

Paloma, a mãe disse...

Adorei também. Acho que todas se preparam (nem que seja só em pensamento) para a amentação, mas ninguém está preoarado para quando ela não acontece - e os motivos,como vimos aqui, são diversos. Aí todo mundo vem com a mesma ladainha, como se amamentar fosse mais importante que manter seu bebê vivo.

Mãe do Pitoco disse...

Thaty, não há nada mais importante na relação mãe-bebê do que o verdadeiro envolvimento. Independente de ter ou não o leite materno, fica nítido, pelo seu relato, pelo seu blog e, certamente, pelos cuidados que vc tem com Alice, que este vínculo mãe-filha não lhes faltam, e é isso o que realmante importa. Nada, nada mesmo, substitui esta cumplicidade, e não é o ato de amamentar que cria o laço, ele é só mais um aspecto muito positivo desta relação e que, se não houver, por motivos que fogem ao alcance da mãe, não deve servir de martírio para ninguém. Você fez tud o que podia para dar o melhor para sua bebê e ponto. É isso o que vale, e para sempre será assim com nossos filhos, para sempre... a amamentação é só um dos primeiros momentos em que percebemos isso. Beijos em vcs duas.