sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fernanda e Isabela

Minha segunda filha nasceu e eu tinha muitas expectativas em torno da amamentação, embora a experiência com a mais velha tenha sido positiva (mamou exclusivamente por 6 meses e depois até 1 ano e 4 meses)!
Já nos primeiros dias, algo parecia estar errado: Isabela golfava até o colostro e engasgava muito nas mamadas. O leite veio com muita força, tive hiperlactação e reflexo de ejeção forte.
Aos poucos fui aprendendo a lidar com o reflexo de ejeção e a produção foi se normalizando.
Mas a cada dia, Isabela vomitava mais e mais, a irritação após as mamadas aumentavam e outros sintomas foram surgindo: diarréia e muco nas fezes, dermatite atrás das orelhas e nas dobras, vômitos em jato, mesmo adotando todas as medidas posturais.
Com 20 dias caiu a ficha de que o leite de vaca poderia estar por trás de tudo. Eu era a própria bezerra, consumia bastante leite e derivados diariamente e num primeiro momento, cortar leite parecia ser impossível. Mas a gente logo percebe que o mundo não é feito de leite e que existem sim, muitas opções.
No início tive um pouco de dificuldades com rótulos, cheguei a comer biscoito de água e sal, achando que era inocente, ou mesmo dar uma lambidinha na tampa do iogurte. Mas os vômitos da Isabela denunciavam a escorregada.
O aviso principal veio com toda força aos 23 dias quando apareceu sangue vivo nas fezes. Nada mais desesperador. Marquei a gastropediatra.
Com 25 dias fomos na consulta, ela, após ouvir a história, praticamente fechou o diagnóstico, querendo apenas afastar a possibilidade de infecção. Pediu vários exames de fezes (coprocultura, alfa 1 antripsina fecal, elementos anormais nas fezes - hemácias, leucócitos e substâncias redutoras - e sangue oculto - anti HB-humano) e indicou a dieta (acrescentando soja, carne bovina e ovo) e as medidas posturais para o refluxo.
Fizemos os exames (alterados), mas sem infecção, o que fechava de vez o diagnóstico junto com a dieta. Além disso, comi mais alguma coisa com leite (um biscoito) e foram mais 5 dias de sangue nas fezes em cada evacuação.
Continuei amamentando em livre demanda e exclusivamente, a Isabela não vomitava mais, no entanto continuava com diarréia e muco nas fezes, e dermatites. E continuava muito irritada após as mamadas. Foi então receitado remédio para o refluxo (que tomou por 3 meses), além de uma maior restrição na dieta, que depois aos poucos fui voltando a comer.
Apesar desse começo complicado, ela ganhou 2 quilos nos 2 primeiros meses.
Aos 5 meses, uma bobeada no rótulo, comi alimento com leite e mais uma vez, cólicas, sangue e muco nas fezes.
Repetimos os exames, e estavam piores que os primeiros, para meu desespero. A Dra. Sheila me tranquilizou, dizendo ser esperado, e que eu mantivesse a dieta e me orientou para a introdução dos sólidos com 6 meses.
A introdução dos sólidos foi super problemática: primeiro porque minha filha detestava comida! Segundo, porque ainda estava sensibilizada e tudo era uma caixinha de surpresas. E depois, sempre tinha algo para atrapalhar: uma vacina, algo que eu podia ter comido, alterações na rotina.
Nessa época, foi prescrito o ferro e Isabela não tolerou, mesmo eu dando 1 gota por dia e aumentando a dose aos poucos. Voltou o refluxo e precisou de mais 2 meses de medicação.
Teve pneumonia aos 7 meses e meio, tomou a vacina prevenar aos 9 e teve forte reação alérgica.
O coco continuava com aspecto péssimo, os exames ruins, e a Dra Sheila pedindo para eu manter a dieta e seguir vagarosamente na introdução dos sólidos. Toda vez que algo desse errado, voltar e continuar. Era importante sempre andar para a frente, mas dar uns passinhos para trás de vez em quando.
Com 10 meses, finalmente, passou a ter um coco com aspecto normal e os exames finalmente normalizaram (com exceção do alfa 1 que piorou muito, mas a Dra Sheila também me tranquilizou, pois era um resultado isolado e segundo ela sem valor). Teve uma recaída na diarréia que durou quase 1 mês, a causa não descobri, mas desconfio de migalhas pelo chão ou mesmo uma virose.
Nesse período, tive momentos enlouquecedores, chorei muito, dividi minhas dúvidas e tristezas e também alegrias com minhas amigas virtuais, já que os reais me acham louca e alguns heroína.
A dieta teria sido muito mais difícil não fosse a facilidade de hoje encontrar alguns produtos isentos de leite e soja que facilitaram muito minha vida, como bebidas à base de arroz, chocolates e achocolatados sem leite e soja, entre outras coisas.
Com 1 ano comi acidentalmente um pedaço de queijo e voltamos a ter sangue oculto positivo, o que adiou qualquer tentativa de reintrodução para 2 anos, pelo menos.
Por outro lado, tivemos sucesso na reintrodução de carne e ovo na alimentação, além dos cítricos e a dieta ficou restrita a leite e derivados e soja.
Ela hoje está com 21 meses, se recuperando da anemia em razão do sangramento intestinal, se alimentando bem, esperta, brincalhona e participativa. Continua mamando e não tem data para parar!

E hoje, olhando para trás, vejo que as coisas já foram piores, indefinidas. Mais do que nunca, vejo que é preciso muita paciência, cautela, cuidado e observação. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas com certeza, as coisas vão ficar melhores a cada dia!


História enviada por Fernanda, mãe de Clara e Isabela

para ler o relato da Clara, passem .

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Conheci o blog da Fernanda, buscando na net textos do livro "Mi niño no me come" do Carlos Gonzalez. Foi admiração a primeira leitura, achei importante ter um relato dela aqui na nossa campanha e escrevi um e-mail pedindo que ela me enviasse sua história.
Vale a pena conferir AQUI a bonita campanha que ela está fazendo, reunindo lindas e emocionantes histórias de mães que amamentam bebês com alergia.
Obrigada Fernanda e Parabéns a todas as mamães que amamentam seus filhos com alergia alimentar.

7 comentários:

disse...

Nanda - que luta e vc está de parabéns! Minha irmã tem um filhote de 2 aninhos que tem alergia severa ao leite(não à lactose) até soja é proibido. A alimentação é regrada, mas ela não foi persistente quanto à amamentação, por isso digo que vc é uma gerreira, pois além de cuidar de uma alimentação especial para a filhota cuiedou da sua também! parabéns querida!

Anonymous disse...

chorei!
Parabéns pela força!

Meire

LUIZA PASSOS disse...

Fê...
Primeiro PARABÉNS pela persistência, pela força e pelo exemplo que vc esta dando aqui hj!!!
E queria te perguntar uma coisa...sei que vc já deve ter estudo e revirado essa alergia da sua pequena...mas durante a leitura do seu relato eu vi que vc dá as vacinas nela...e pelo que sei (tenho uma sobrinha com dermatite atópica severa) as vacinas não são indicadas em crianças que tem doenças auto-imunes, se vc quiser depois posso verificar direitinho e te passar!!!
E novamente PARABÉNS...seu relato me emocionou muito!!!
Beijos

piscardeolhos disse...

Fernanda, o que dizer além de parabéns pela garra e determinação. Vc é uma guerreira. Tudo de bom pra vocês! Roberta

Thaís Rosa disse...

AMEI esse relato, e também o da Clara, que li lá no blog. Comentei lá também.
e eu me acho a maior mãe guerreira, conhecendo essas histórias... nossa!

Alessandra disse...

Fernanda, parabéns!!!!

São sacrifícios que valem a pena!

Muita SAÚDE!!!!!

Fernanda disse...

Obrigada meninas e obrigada especial para a Flávia pela super iniciativa.

Respondendo à Luiza, a alergia alimentar não é uma doença auto imune. Por si só não contraindica as vacinas. Mas Isabela segue um calendário alternativo, não só em razão de contraindicações específicas de algumas vacinas, mas por também por uma filosofia minha também.

bjs, Fernanda