quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ligia, Bernardo e Laura

Sempre quis amamentar. Eu havia feito mamoplastia de redução aos 25 anos e o cirurgião me garantiu que eu poderia amamentar. Todos os médicos foram unânimes em dizer que não havia problemas. Meu obstetra nunca olhou minhas mamas nem tocou no assunto amamentação. Quando meu casal de gêmeos veio ao mundo com apenas 33 semanas de gestação foram levados às pressas para UTI. Quando me recuperei parcialmente da anestesia fui vê-los e estavam com sonda se alimentando com pré-nan. Eu não podia segurá-los pois estavam em incubadoras, só podia tocá-los pela portinhola.
Fui orientada a procurar o banco de leite da maternidade. Lá a enfermeira constatou que não tinha colostro e me mandou para o quarto ficar massageando as mamas. No outro dia, a mesma coisa. Até que implorei que me deixassem usar a bombinha. A bombinha tirara um dedinho de colostro que as enfermeiras prontamente jogavam no lixo.
Eu tive alta e meus bebês ficaram. Decidida eu estava no banco de leite todos os dias durante o período de internação deles. Após uma semana tirava 30ml de leite por dia na bombinha e meus bebês mamavam 40ml cada a cada três horas. Desesperada tomava litros de água e passava o dia no banco de leite sendo sugada pelas bombinhas até me machucar.
As enfermeiras me desestimulavam, pediam que eu fosse menos vezes ao banco de leite, ou davam receitas infalíveis para aumentar o leite: tomei de tudo: ocitocina, plasil, chá da mamãe, suco de milho, canjica, litros e mais litros de água.
Enquanto isso, as mães ao meu lado tiravam garrafinhas e garrafinhas de leite e se orgulhavam e auto-elogiavam. Eu encabulada só sabia chorar no banheiro. Nessa época as crianças já mamavam 60 ml e as enfermeiras “esqueciam” de levar meu leite até a UTI neonatal porque não valia a pena. Virei assunto entre as mamães da UTI que me olhavam com aquela cara de piedade.
Os bebês saíram da incubadora e passaram a ser treinados pela fonoaudióloga com a mamadeira. Ainda não tinha força para sugar e não podiam ir ao peito. O que não descia pela mamadeira, ia pela sonda. Dias depois começamos o treinamento no peito. Só um pouquinho as enfermeiras diziam para não cansar os bebês. Os pequenos realmente se cansavam e só dormiam no peito. Mas ali rodeada de enfermeiras parecia tudo perfeito, um sonho. Elas seguravam a cabecinha deles, abriam a boquinha. Era muito bom e eu estava felicíssima
Até que mandaram os bebês para casa com uma receita de nan e desejos de boa sorte. Fui aí que eu e meus gêmeos descobrimos o pesadelo da amamentação. Eles não mamavam, choravam de fome. O leite era insuficiente, eles tinham pega fraca. (des)Orientada pelos pediatras voltei a fazer tudo de novo: plasil, chá de alfafa, massagem, bico de silicone, concha rígida. Ouvi absurdos e absurdos de médicos, da sogra, da cunhada. Eu ligava para os grupos de apoio, ligava para a maternidade e só ouvia o mesmo, mexe no pezinho deles, molha a cabecinha, toma bastante água, ou seja, apoio verdadeiro nenhum.
Até que decidi que eu queria ser feliz com meus filhos e passei a dar só LA. Hoje eles estão fortes, saudáveis, comem papinha, ganharam peso e são lindos e loucos por mim! e pelo pai, que deu muita mamadeira de Nan durante a madrugada.


História enviada por Ligia

Um comentário:

Tathy disse...

Ligia, nossa história é muito parecida, não sei se vc leu o meu relato lá em baixo. A (Des) Orientação dos médicos e de enfermeiras é mesmo "fantástica". Serve de alerta a muitas outras mulheres e um olhar de que o a relação mãe e filho (s) é muito mais complexa e intensa.

Beijosss